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(Lc 4.1-13)
INTRODUÇÃO

Em Lucas 4-1.13 encontramos o registro da tentação de Jesus. O Filho do Homem foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Neste ambiente hostil e sobre fortes e sedutoras tentativas diabólicas, o nosso Senhor conseguiu vencer as artimanhas do Maligno utilizando-se da espada do Espírito – a Palavra de Deus.

I – A TENTAÇÃO DE JESUS SEGUNDO O EVANGELHO DE LUCAS
Após ser batizado por João Batista no Jordão (Lc 3.21,22), Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto para ser tentado. Mas alguém pode perguntar: como era possível que o Jesus sem pecado fosse tentado? Devemos antes de mais nada observar que o que foi tentado foi sua natureza humana. Jesus não só era Deus; ele era também homem. O episódio da tentação está registrado nos três evangelhos sinóticos (Mt 4; Mc 1.13; Lc 4). No entanto, o registro lucano nos fornece alguns detalhes a respeito desse fato que abaixo iremos destacar:

1.1 O lugar da tentação (Lc 4.1). O referido texto nos mostra que Jesus foi tentado no deserto “E Jesus […] foi levado [...] ao deserto”. A palavra deserto no grego “eremía” e “éremus” significam, ambos, “deserto” ou “lugar ermo”, ou seja, não somente um verdadeiro deserto, mas também um lugar desabitado ou escassamente habitado. “A zona desabitada da Judéia ocupava a parte central que era o espinho dorsal da parte sul da Palestina. Entre esta zona e o Mar Morto havia um deserto terrível, de cinquenta quilômetros por vinte e cinco. As colinas eram como acumulações de pó; a pedra calcária parecia amolada e descascada; as rochas nuas e trincadas; o solo parecia oco sob os cascos dos cavalos; brilhava com o calor como uma grande fornalha e terminava em precipícios de quatrocentos metros de altura, que se precipitavam ao redor do Mar Morto. Nesta aterradora desolação Jesus foi tentado” (BARCLAY, 1955, p. 39).

1.2 O tempo da tentação (Lc 4.2-a). O relato de Mateus indica que foi “após os quarenta dias de jejum” que a tentação teve inicio (Mt 4.1). Mas Lucas diz especificamente que a tentação durou todo esse tempo “e quarenta dias foi tentado pelo diabo”. Isso é muito mais vívido e perturbador. A tentação foi prolongada e severa. Contudo, Jesus, apesar da tensão e da fome, mostrou-se vitorioso. É interessante destacar que as tentações que Cristo sofreu não resumiram-se ao deserto (Lc 22.28). O diabo deu uma trégua temporária depois do episódio no deserto, mas logo retornaria para importunar o Mestre (Lc 4.13). Como podemos ver, o Salvador viveu constantemente sob a pressão do diabo, que é uma personalidade real, embora não seja necessariamente visível.

1.3 O agente tentador (Lc 4.2-b). O referido texto nos informa que quem tentou Jesus foi o próprio diabo “e quarenta dias foi tentado pelo diabo”. Os outros evangelistas também asseveram isso (Mt 4.3; Mc 1.13). A Bíblia nos mostra que ele é o principal agente da tentação (Gn 3.1; II Co 11.3; I Ts 3.5; I Pe 5.8). O registro lucano informa quais as artimanhas do Inimigo para esse fim: (a) o diabo chegou-se a Jesus no deserto valendo-se de que ele estava sozinho (Mt 4.1; Lc 4.1); (b) aproveitou um momento que o Mestre se encontrava debilitado fisicamente (Mt 4.2; Lc 4.2); (c) com a expressão “se” talvez quisesse colocar dúvida na mente de Cristo (Lc 4.3); (d) tentou três vezes, pois entendia que a insistência podia fazer o Filho de Deus ceder (Lc 4.3); e, (e) usou a Palavra de Deus de forma distorcida para ludibriar (Lc 4.10,11).

II – AS PROPOSTAS DO INIMIGO NA TENTAÇÃO
Lucas apresenta uma sequência de tentações diferente da do evangelho de Mateus, contudo o relato de Lucas não afirma ser cronológico. Não sabemos por que Lucas inverte a ordem das duas últimas tentações, e não há proveito em especular a respeito disso. O que deve ser destacado é que a tentação foi uma realidade. “Jesus é colocado em teste para determinar se possui as qualidades necessárias para ser o Salvador, o Cristo e o Senhor. O diabo, seu arqui-inimigo, confronta Jesus e tenta seduzi-lo antes do inicio de seu ministério. Seu objetivo é frustrar o plano de salvação de Deus logo no principio, induzindo Jesus a faltar com sua palavra para com Deus” (TOKUMBOH, p. 1241).

2.1 Duvidar da revelação recebida (Lc 4.3). No batismo, Jesus ouvira do céu a declaração do Pai dizendo: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3.22-b). No entanto, no deserto, o diabo o tentou a duvidar dessa declaração, quando o quis incitar a transformar as pedras em pão como evidência de sua filiação divina (Lc 4.3). Em primeiro lugar, Jesus não precisava provar para Satanás que ele era o Filho de Deus, pois Satanás sabia disso (Mc 5.7; Lc 8.28). Em segundo lugar Jesus não compôs a sua própria resposta para o tentador, mas extraiu a sua resposta da revelação das Escrituras (Dt. 8.3; Lc 4.4). O homem precisa de pão, mas o pão não serve para todas as necessidades. A gratificação material dos apetites não pode nunca satisfazer os mais profundos anseios do espírito humano.

2.2 Apossar-se de forma prematura dos direitos de Messias (Lc 4.5-8). Lucas enfatiza o fato de que o Maligno fez aparecer diante de Jesus toda a pompa deste mundo, alegando ser dele (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Na verdade Cristo Jesus é herdeiro de tudo (Rm 8.17; Hb 1.2). Todavia, a Escritura nos mostra que todas as coisas lhe estariam sujeitas no devido tempo (Hb 10.13; Ap 11.15). Querer tomar posse dos reinos antes de passar pela cruz era contrariar o plano divino. Mas, Jesus estava comprometido plenamente com a vontade divina (Jo 4.34; 5.30; 6.38; Hb 10.7).

2.3 Testar a revelação recebida (Lc 4.9-12). “A tentação pode ter sido no sentido de operar um milagre espetacular mas sem razão de ser, a fim de compelir a maravilha e a crença de certo tipo. A tentação pode ter sido, conforme a resposta de Jesus parece indicar, a de ser presunçoso com Deus ao invés de confiar nele humildemente. O Maligno nesta ocasião cita a Escritura (Sl 91.11-12) para assegurar Jesus que Ele ficaria bastante seguro. Este, porém, é um emprego errôneo da Bíblia. E torcer um texto para servir um propósito. Jesus rejeita esta tentação, conforme fizera com as outras duas, ao apelar para o significado verdadeiro da Bíblia (Dt 6.16). Não cabe ao homem submeter Deus ao teste, nem sequer quando o homem é o próprio Filho de Deus encarnado” (MORRIS, 2007, p. 98,99).

III – A IMPECABILIDADE DE JESUS CRISTO
“A impecabilidade de Cristo, pois, deve significar mais do que a rejeição de atos pecaminosos; ele nunca favoreceu a atitude do pecado; não pecou em seus desejos e em seus motivos, muito menos em suas ações. Ele mesmo deixou claro que o pecado reside nos desejos e motivos dos homens, e não apenas em atos pecaminosos” (CHAMPLIN, 2006, p. 523). A respeito de Cristo o escritor aos Hebreus diz que ele “em tudo foi tentado” (Hb 4.15-a). Como Deus ele não podia ser tentado, mas como homem passou por diversas tentações (Lc 22.28; Hb 2.18). A tentação na vida de Cristo nos ensina que ele era perfeitamente homem (Jo 1.14; Fp 2.7). Foi tentado a fim de se identificar com a raça humana e ser constituído o nosso sacerdote (Hb 2.17; 4.15; 5.2). Diz ainda a Bíblia apesar de em tudo ser tentado, permaneceu “sem pecado” (Hb 4.15-b). Tanto no Antigo quanto o Novo Testamento ensinam claramente a impecabilidade de Cristo (Jr 33.16; Is 53.6; II Co 5.21; Hb 4.15; 7.26; 9.14; I Pe 1.19). Ele nasceu sem pecado (Lc 1;.26-35). Viveu de forma irrepreensível durante toda a sua vida (Mt 27.19; Lc 23.47; Jo 18.38). Por isso, sendo perfeito, tornou-se o sacrifício perfeito pelos pecados do mundo (Is 53.12; Hb 7.26-28).

IV – O CONTRASTE ENTRE ADÃO E CRISTO
A queda do homem se deu quando o primeiro Adão, como representante da humanidade, cedeu à tentação do diabo (Gn 3). Assim começou o pecado (Rm 5.12). Do mesmo modo agora, quando o ministério público de Jesus estava para ter início, era oportuno que ele, como o segundo Adão, resistisse à tentação do diabo e prestasse obediência perfeita a Deus. Na tabela abaixo destacaremos os contrastes entre Adão e Cristo.

ADÃO - Sendo homem queria ser Deus (Gn 3.5,6)
CRISTO - Sendo Deus se fez homem (Fp 2.6)
Foi tentado no Éden e caiu (Gn 3.6)
CRISTO - Foi tentado no deserto e venceu (Lc 4.1-2)
ADÃO - Trouxe o pecado ao mundo (Rm 5.12)
CRISTO - Tira o pecado do mundo (Jo 1.29)
ADÃO - Prejudicou toda a raça humana com seu pecado
(Rm 5.12,19-a)
CRISTO - Beneficiou toda a raça humana com sua justiça
(Rm 5.17-19)
ADÃO - Nele morremos (I Co 15.22-a)
CRISTO - Nele somos vivificados (I Co 15.22-b)
ADÃO - Herdamos a natureza pecaminosa (Ef 2.3)
CRISTO - Herdamos a natureza divina (II Pe 1.4)

V – APRENDENDO COM JESUS A VENCER AS TENTAÇÕES
Vivendo cheio do Espírito Santo (Lc 4.1-a).
Orando sempre (Lc 4.2; Mt 26.41).
Praticando regularmente o jejum (Lc 4.2).
Vigiando (Lc 4.3-13; Mc 14.34).
Usando a Palavra, a espada do Espírito (Lc 4.4,8,12).

CONCLUSÃO
Que Cristo tornou-se perfeitamente homem, Lucas deixa evidente pela sua genealogia até Adão e pela tentação no deserto. Jesus, como o segundo Adão, venceu o diabo e mostrou ser o homem perfeito apto para ser o nosso sacerdote e o sacrifício perfeito pelos nossos pecados.

REFERÊNCIAS
ADEYEMO, Tokunboh. Comentário Bíblico Africano. MUNDO CRISTÃO.
BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento. PDF.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
MORRIS, Leon, L. Lucas: Introdução e Comentário. VIDA NOVA.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

Sobre Unknown

Edilson Pereira é pregador do Evangelho há 20 anos, tendo ministrado a Palavra de Deus em vários estados do Brasil. O mesmo é Professor de EBD, Escritor e Blogueiro.
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