A Epístola de Tiago é conhecida como uma das Epístolas Gerais do Novo Testamen­to. Esses livros receberam esse nome porque foram escritos como cartas circulares para serem lidas em várias igrejas. Esse aspecto está em contraste com a maioria das Epísto­las Paulinas, que eram endereçadas a igrejas específicas ou a indivíduos.

Autoria

O autor identifica-se somente como “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (1.1). Havia vários homens importantes no Novo Testamento que se chamavam Tiago.
No entanto, há uma forte evidência, defendida por muitos estudiosos da Bíblia, de que o autor era o líder da igreja em Jerusalém (At 15.13). Paulo se refere a ele como “Tiago, irmão do Senhor” e o inclui entre os “apóstolos”1 (G11.19). Em Gálatas 2.9, ele caracteri­za Tiago como um dos “pilares” da Igreja.
Este Tiago é mencionado duas vezes nos evangelhos (Mt 13.55; Mc 6.3). Nas duas passagens ele é identificado como um dos irmãos de Jesus. Ele somente se tornou um seguidor do nosso Senhor após a Ressurreição. Ele estava entre os discípulos primitivos que, no cenáculo, esperavam pela descida do Espírito Santo e “perseveravam unanime­ mente em oração e súplica” (At 1.14).
A habilidade e fé de Tiago logo o colocaram num lugar de proeminência entre os cristãos  primitivos.  Quando  Pedro  deixou  a  Palestina  (At  12.17),  tudo  indica  que Tiago  assumiu  a liderança  da igreja  de  Jerusalém.  Três  anos  após  a  conversão  de Paulo, ele visitou os líderes de Jerusalém e lá viu “Tiago, irmão do Senhor” (G11.19).
Em Atos  15, na assembléia que discutia a admissão dos gentios na Igreja, Tiago era o  ministro  que presidia  a  reunião.  Na  mesma  visita  a  Jerusalém,  “Tiago,  Cefas  e João” estenderam a destra da comunhão a Paulo e Barnabé (G1 2.9). Na sua última visita a Jerusalém, quando Paulo apresentou seu relatório, “Tiago, e todos os anciãos vieram ali” (At 21.18).
De um homem nessa posição de responsabilidade e autoridade haveríamos de espe­rar uma carta pastoral de conselhos práticos concernentes a questões que afetavam a vida espiritual da Igreja. E isso que encontramos nesta epístola.

Destino
Tiago dirige sua carta “às doze tribos que andam dispersas” (1.1). Estes provavel­mente eram cristãos que em tempos passados haviam sido judeus e que foram espalha­dos  pelas  primeiras  perseguições  à  Igreja.  É  bem  possível  que  a  saudação também incluísse os cristãos judeus ganhos para Cristo por Paulo e outros missionários onde foram estabelecidas igrejas em cidades gentias. Na maioria dessas igrejas havia pelo menos um núcleo de crentes judeus que aceitaram Cristo como resultado da pregação em suas sinagogas.

Data
Não  há  evidência  na  epístola  ou  de  fontes  externas  que  ajudem  a  determinar exatamente  a  data  em  que  foi  escrita esta  carta. Alguns  estudiosos  conservadores argumentam que esta carta pode ter sido escrita em 45 d.C., outros já acreditam que ela foi escrita em 62 d.C. As datas mais precoces se baseiam no fato de que na epísto­la o autor não faz nenhuma menção do problema da admissão de gentios na Igreja.
Sabemos que Tiago estava profundamente preocupado com esta questão numa época posterior. Aqueles  que  propõem  uma  data  posterior ressaltam  a condição  relativa­ mente estabelecida da Igreja refletida na epístola. Tiago não parece estar muito preo­ cupado em colocar os fundamentos e ressaltar doutrinas evangélicas para uma Igreja que está dando seus primeiros passos na fé. Isto favorece a ideia de a epístola ter sido escrita numa data posterior. Assim, o conteúdo sugere que esta carta foi escrita numa data  posterior  às  cartas  aos  Gálatas  e  aos  Romanos,  nas  quais  o  autor  tratou  de assuntos doutrinários fundamentais. O aspecto-chave não é o ano exato, mas o período. Se, como tudo indica, Tiago foi martirizado em 63 d.C., a epístola obviamente foi escrita antes dessa data.

Propósito e Natureza
A epístola foi destinada a fomentar o viver cristão prático, como era o caso das seções éticas das cartas de Paulo. Já havia se passado um longo período desde os primeiros dias da  Igreja,  e  atitudes  e  práticas  corrosivas  estavam  começando  a  aparecer.  Tiago fala contra esses males com seriedade e uma severidade santa, exortando os cristãos em toda parte a permanecerem fiéis aos ensinamentos e práticas da fé.
Observa-se com frequência que Tiago é o livro com uma característica judaica mais marcante do Novo Testamento. Por causa desse aspecto e por causa da ênfase em um comportamento piedoso,  o livro pode  ser comparado à literatura sapiencial  do Antigo Testamento. Devido à sua preocupação com a justiça social, Tiago é frequentemente cha­mado  de  o Amós  do Novo  Testamento.  Há  também  nessa  epístola  uma  similaridade marcante com os ensinamentos de Jesus no Sermão do Monte. Isso talvez faça sentido já
que Tiago foi criado na mesma família de Jesus e estava próximo dele durante os anos anteriores ao ministério público do nosso Senhor. Hayes escreve: “Tiago diz menos acer­ca do Mestre do que qualquer outro autor do NT, mas o seu discurso é mais parecido com o do Mestre se comparado ao discurso deles”.

A profunda preocupação com os resultados práticos da fé cristã parece às vezes torná-lo um oponente  à ênfase  de Paulo no que tange  à salvação  somente pela fé.  Foi essa ênfase de Tiago que fez com que Martinho Lutero denominasse o livro de Tiago de “epís­tola de palha”. Mas Lutero estava errado. Aposição de Tiago não é um ataque à salvação pela fé; ela é um protesto contra a hipocrisia. Tiago quer que o mundo saiba que a fé é uma força transformadora. A salvação pela fé resulta em um viver santo. Isto não con­
tradiz o ensino de Paulo — ele o complementa. As duas ênfases compreendem as duas facetas de uma fé cristã completa — redenção e vida santa.

Tasker apresenta uma avaliação apropriada da função singular do livro:

Esta epístola tem um valor especial para o cristão individual durante  o que podemos chamar de  segundo  estágio  do  seu progresso  como  peregrino.  Depois  de ser levado a aceitar o evangelho da graça e vir a ter a certeza jubilosa de que é um filho de Deus redimido, se ele deseja avançar no caminho da santidade, e para que as implicações éticas da sua nova fé possam ser traduzidas em realidades práticas, então ele precisa do estímulo e desafio da epístola de Tiago.

A .  F.  Harper

Sobre Unknown

Edilson Pereira é pregador do Evangelho há 20 anos, tendo ministrado a Palavra de Deus em vários estados do Brasil. O mesmo é Professor de EBD, Escritor e Blogueiro.
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