O mais novo acontecimento que balançou o mundo gospel e dividiu opiniões foi o lançamento da Bíblia de Estudo Apostólica Ide, que estampa em sua capa o nome do seu progenitor: Thalles Roberto.
Thalles chacoalhou o Brasil há poucos anos com seu testemunho retumbante, sua técnica vocal de alta qualidade, um belo timbre e uma banda excelente e com bastante energia. Logo após o lançamento do seu segundo CD (o primeiro autoral), explodiu atingindo números expressivos!
Mas o começo simples, com a gravação de hinos já consagrados e a humildade ao tratar dos primeiros passos com Deus no primeiro CD, logo deu lugar a uma série de controvérsias e episódios lamentáveis – para utilizar eufemismo. Thalles chegou a entregar uma toalha ungida com seu próprio suor a um casal de jovens em Recife para que houvesse salvação em sua casa, um dos fatos que começaram a revelar seu espírito. Logo no princípio, ao igualar-se ao apóstolo Paulo com o “suor santo”, seu coração começou a descortinar-se.
Pouco depois, em entrevista, afirmou diante de todo o Brasil que aconselhou o filho a não ser baterista porque “baterista não aparece, tem que ser igual ao papai!”. Lamentavelmente, Thalles parece não compreender o exemplo de Jesus ou não achar digno de imitação quando este não desejou atrair atenção sobre si mesmo.
E o que dizer da frase categórica do seu DVD que conclama uma massa de jovens apaixonados e extravagantes a “abraçar a glória de Deus” com seus braços abertos? Bem diferente dos serafins, que cobrem seus rostos diante da glória de Deus (Isaías 6), ou do povo que implorou para que Deus parasse de se manifestar com medo de morrer, ou do próprio apóstolo João, que, antes da ressurreição, deitava no colo de Jesus e, agora, caía ao chão como morto por contemplar o Cristo ressurreto (Apocalipse 1).
Talvez com saudades de se envolver em polêmicas – já que a última grande tinha sido o altíssimo cachê cobrado pelo “ministério” e pelo evangelismo por meio de sua música –, Thalles resolveu lançar um novo projeto: sua bíblia apostólica.
Em seu vídeo promocional, de autoria própria, Thalles diz que “o Espírito santo lhe deu esse projeto”, já que “o jovem não lê bíblia, e sim gosta de música, de louvor, de pular e de gritar”. “Deus colocou essa responsabilidade nele”.
Quando deseja demonstrar quais são os atrativos diferenciais da bíblia, ele destaca que, nas páginas iniciais, há sua história (do Thalles), experiências com Deus, seus testemunhos, seu envolvimento com a bíblia, como ele foi liberto e as letras das músicas: “é uma estratégia de Deus”.
“O meu Facebook está entre os maiores do país. Por isso eu coloquei meu nome aqui. O nosso objetivo não foi só… é… é… é… vender bíblias. Mas como milhares e milhares e milhares gostam só da música, essa é uma estratégia de Deus”.
Incrível como o atrativo para a leitura do texto que contém histórias como a de Abraão, Moisés, Isaque, Jacó, Paulo, Pedro, João Batista, Davi, Salomão, Sansão e o próprio Cristo é a história do Thalles. Além do mais, essa peça “apostólica” está sendo vendida em seu site pela bagatela de R$110,00. Cento e dez reais! Essa é a bíblia que vai fazer com que os jovens tenham vontade de conhecer o seu salvador pessoal.
Paulo advertiu Timóteo dos falsos profetas e mestres ávidos por dinheiro (1 Timóteo 6.5). Jesus instruiu-nos a experimentar os profetas por suas vidas (Mateus 7.15-16). Mais do que o discurso e os números, precisamos ver evidências reais que o que motiva o “evangelismo” é o Espírito Santo de Deus.
Adianta ter um Facebook com sete milhões de pessoas, shows lotados todos os dias, e não dar bom testemunho de uma vida realmente transformada? Ou não percebemos que o mundo gospel apenas mudou os pecados tradicionais colocando panos coloridos e muita música?
Os homens e mulheres que realmente querem levar a bíblia para os jovens (e não só para eles) oferecem-nas de graça! O que dizer dos Gideões que distribuem novos testamentos gratuitos há anos? Ou dos irmãos da Bola de Neve distribuindo o evangelho de João sem nada pedir em troca? Ou os milhares de batistas, presbiterianos, metodistas, assembleianos e tantos outros que vão de casa em casa entregando a Palavra de Deus sem pedir nada em troca?
Se Deus chamou Thalles para alguma coisa, chamou-o para o arrependimento. É hora de colocar a boca no pó, voltar atrás e implorar que Deus tenha misericórdia do Brasil. Precisamos de homens e mulheres que não amem suas próprias fotos e seus próprios nomes, mas que tenham um desejo único de apontar para Cristo! Ele é o único merecedor de honra e glória!
Parem com os lucros! Parem com as conferências! Parem com a avareza, o roubo, a extorsão! Cristo, acima de tudo! Que Ele seja o baluarte do evangelicalismo brasileiro!
Cristo e nada mais.
Raphael Cavalcanti
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